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quarta-feira, 23 de maio de 2007

Os dilemas de Manuel (1)

«Eugênia, eu estive a pensar outro dia...», balbuciou Manuel com ar muito triste.

«Você não acha que devíamos mudar de casa? Eu já não me sinto bem aqui nesta casa, nem neste bairro, nem mesmo nesta cidade... Sinto-me muito infeliz», continuou ele.

Eugênia era uma mulher muito paciente e resignada. Não se preocupava muito com os problemas do dia a dia. Ía-os resolvendo a medida do possível, e independente de viver com o Manuel, ela levava uma vida mais leve que a dele. Não introspectava nada com muita seriedade e deixava que as coisas fluíssem normalmente. O que ela podia resolver, resolvia. O que não podia, deixava que outra pessoa resolvesse, ou pedia a Deus que ajudasse e esperava que Ele mesmo resolvesse, se ela sentisse que não tinha capacidades.

Manuel continuava a falar, sempre olhando para suas próprias mãos a esfregarem-se uma na outra. « Queria ir para uma cidade maior, onde os problemas se dissipassem e que ninguém soubesse das nossas vidas..»

«Para que Manuel», perguntou ela, «Mudar-se para entrar no anonimato, é esta a razão da sua vontade? Tens que arranjar uma desculpa melhor. Tens que perguntar a ti mesmo o que deseja fazer na cidade realmente. Só e somente só, perguntar a ti o que você deseja da sua vida. E não ficar se lamentando que aqui ninguém gosta de ti, e que aqui ninguém te dá oportunidades, que aqui as pessoas são isso ou aquilo... porque se você não tem sorte, é porque não acredita nela meu querido.»

«Mas..», disse Manuel, tentando recuperar o folego que ela perdera para argumentar.

«Mas nada Manuel, o que você pensa que eu sinto em relação a esta terra? Não acha que também me sinto esquecida por esta gente e que vejo que ninguém me leva em consideração sequer como pessoa?, mas não é por isso que deixo de sonhar meu amor, não é por isso que deixo de querer estar contigo, de querer fazer coisas que me dão prazer e etcetera... Não podemos deixar coisa alguma conduzir a nossa vida para um buraco. Porque se você deixa, quem te olhará de frente é "o próprio buraco" e a actração é fatal!», interrompeu Eugênia com sua força interior, um bocado farta de ver e ouvir o Manuel em viagens depressivas.

«Eu te adoro. Mesmo quando entras nesta fase de mergulho interior. Confesso que morro de saudades tuas quando te vejo assim, a caminho do seu abismo. Mas te amo tanto, que não me importo de esperar que você finalmente retorne. Quero que saibas, que apesar de estar falando de uma forma figurada, te juro, pelo amor que te tenho, que mesmo cansada de esperar, jamais perderei as forças de te rever outra vez recuperado. E não importa quantas vezes você mergulhe. Eu estarei sempre a sua espera.». Continuou, ela.

Manuel a ouvia e Eugênia sem parar de olhar nos seus olhos, concluíra: «Mas também não esqueça Manuel que eu sou tão humana como você, e preciso de carinho, atenção e respeito. Portanto, enquanto você vai e vem no seu estado de depressão, podes estar perdendo alguma coisa importante que ainda possuis...»
Ele não lhe deixou terminar. Colocando cada uma de suas mãos no joelho, levantou-se apressadamente e abraçou-a sem dizer uma palavra.

3 comentários:

Skinner disse...

Ah...agora sim.....rssss.

Puxa...que coisa, logo de início um conto teu em especial me agradou...rsss. Não sou muito versado em literatura, apesar de ler muito, por isso não me sinto gabaritado a um comentário mais apurado e técnico. Vou me expressar apenas om um leitor comum...rssss. Achei teu estilo limpo e fluente, as idéias são claras, objetivas e bem definidas. Enfim gostei, teria mais a dizer, mas fica para uma próxima vez. O que quero mesmo registrar é que o pequeno e primoroso conto, Os dilemas de Manuel, me atingiram bem no centro da testa....rsssss. Conheço um caso bem semelhante, de um certo carinha e sua dedicada namorada....rssssssssssss.
O dito cujo, vive a reclamar da vida e sempre conta com o incondicional apoio de sua amada. Teu pequeno conto, me fez um alerta. E para terminar....quero te confessar que em determinada época de minha vida, eu próprio me apelidei de JOE DILEMA.....rsssssss
Cada vez mais me espanto com a universalidade das coisas, no que diz respeito ao ser humano. rsssss
Olha!....gostei de teu blog e pretendo ler com calma todos os teus contos, e prometo comentá-los sempre, mas quero que vc não se esqueça que talvez eu não tenha erudição suficiente para uma crítca técnica. Vou descrever apenas o que o meu coraçào conseguir enxergar,ok?
Beijosssss p/ todos...Skinner

Anónimo disse...

Oi!
Vim ver seus contos, em especial este, indicada pelo Jorge.
Gostei muito pois vc escreve de uma forma simples, clara e direta.
Parabéns pelo dom!
Salette

Joice Worm disse...

Obrigada, Stella e Jorge. Escrevo mais ou menos como falo, e acredito que cometo alguns erros de construções gramáticais. Mas no fundo e do que realmente me importo é conseguir passar uma mensagem de vida que possa chegar a todos. Sem pretensões da minha parte, mas por imaginar que o vosso problema de hoje, é o meu de amanhã, e vice e versa. Por esta razão, os contos fluem da minha alma. Um abraço a vcs meus queridos.