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sábado, 26 de maio de 2007

Um dia na vida de Eugénia (1)

Naquela tarde Eugénia terminou de tomar o seu café da manhã de pé com o copo na mão em frente à janela da cozinha. Olhava lá para baixo e via as pessoas correrem para seus trabalhos, possívelmente ou passavam em velocidade nos seus carros de um lado para o outro. Ela não se mexia, nem mexia os olhos. Ficou fixa em um ponto da estrada e por uns segundos não pensou em nada, não formulou nenhuma opinião, nem pensou em ninguém. Apenas estava ali, como morta, parada no tempo.
Lentamente foi baixando a mão e o copo vazio do café com leite. Olhou para o chão e virou-se para dentro sentando na cadeira de onde havia levantado. Estava triste. Profundamente triste.
Tentou lembrar em momentos bons de sua infância ou adolescência, mas não conseguiu. Tentou lembrar de coisas boas que lhe tinham acontecido naquela semana, e mais uma vez a sua consciência não ajudava... Levantou-se.
Concluiu que estava a entrar em estado de depressão. Tomou um banho quente e depois abriu de repente a água fria. Queria tentar assustar o seu espírito para ver se ele acordava e o máximo que sentiu foi um arrepio de cortar a respiração.
Enxugou-se e foi até o quarto. Vestiu uma roupa confortável enquanto se olhava ao espelho. Achava-se velha. Inútil. Tinha amigos que não tinha vontade de procurar e seu trabalho não lhe satisfazia. Estava literalmente em depressão. Tomou um comprimido para tentar ajudar a recuperar algum ânimo e esperou deitada no sofá.
Adormeceu agarrada a uma das almofadas vermelha e sonhou que chorava em cima de um coração. Um coração grande que não batia, e ela era responsável por isso. Sentiu que era a única pessoa que estava no sonho e queria salvar o coração.
Gritava por socorro e ninguém a ouvia. Começou a bater no coração com toda a força que tinha ao mesmo tempo que dizia «Não morra, não morra, não morra...»
Acordou de repente e viu que tinha rasgado a almofada.
E dentro dela consegui ver um papel que saíra para fora... Parecia uma mensagem escrita em letras grandes...
«EU TE AMO, MAIS DO QUE IMAGINAS» e em letras pequenas, continuava:
«Escrevi e costurei dentro de todas as almofadas desta sala, pois não sabia quando irias rasgar ao ter um acesso de raiva por não aceitar que eu trabalhe tão tarde fazendo turnos até o amanhecer, mas o amor não escolhe horas e é de manhã que minha ansiedade cresce, porque vou encontrar você...»
Eugénia chorou de alegria agarrada ao papel e a todas as almofadas que havia. E esperou por Manuel com alegria.

3 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida JOICE!...ESTE CONTO ESTÁ DEVERAS ESPECTACULAR, ESTE CONTO ACABA POR SER UMA PURA REALIDADE. Isto é a maneira de viver de muitas mulheres,nada mais têm que os afazeres do lar, os maridos não têm tempo, ou não o querem ter para lhes dedicar um pouco de alegria, de diversão, mas esse MANUEL, ainda teve a intenção de se manifestar com os papelinhos escritos, ele sabia bem do estado de espirito de sua mulher, e com essas letras tentou dar-lhe alento, era de manhã e sempre pela pela manhã que a pobre mulher tinha de estar disposta a satisfazê-lo, porque para ela, certamente que não havia prazer nenhum, havia únicamente a quase obrigação de ter que se dispôr ás necessidades do parceiro.
Qual foi em toda a sua vida o sentir de um prazer sexual, de um prazer de paixão? Pobres de muitas mulheres para o que estão guardadas, um instrumento e nada mais!...Mas mesmo assim aida se sentem felizes, porque conseguem abrir as pernas quando o estúpido do parceiro o entende...

Joice Worm disse...

António, foi pena você não ter lido bem o texto. Respeito a sua opinião, quanto a vida de alguns casais com o problema que você apontou. Mas neste conto, a personagem trabalha, mas infelizmente, por causa do horário desencontrado do marido, eles pouco se vêem.
Senti a sua revolta em relação aos homens que não dão a devida atenção a sua companheira, mas não esqueça que existem também homens maravilhosos espalhados pelo mundo.
E de qualquer forma, não se pode misturar as pessoas. Cada um é diferente do outro e os tratamentos de relações, por conseguinte, também serão.
Só para completar, também existem muitos homens que estão na posição de uma mulher como você descreve... quem sabe?

Anónimo disse...

JOICE, eu percebi bem o significado do texto,compreendo o facto de ser o trabalho a causa de tanta ausência matrimonial, mas continuo a dizer e estar contra na totalidade, porque por muito ke se trabalhe, por muita falta de tempo, há sempre uns minutinhos para dar carinho a quem desenfreadamente espera desolada com a vida ke lhe foi dada, agora pôr bilhetes em todas as almofadas para nelas a mulher saber ke ele se lembra dela , essa não me entra....
fiz no entanto uma generalisação do sofrimento de muitas mulheres, da falta de carinho, de serem sómente uma peça de uso dos seus maridos.